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Josiane Oliveira - Tanatopraxia

  • Foto do escritor: Luciana Perez
    Luciana Perez
  • 8 de mai.
  • 9 min de leitura

Tive a oportunidade de entrevistar a Tanatopraxista Josiane Oliveira, ela nos contou um pouco do seu trabalho.


Josiane Oliveira - Tanatopraxia
Josiane Oliveira - Tanatopraxia

JCD: Quem é Josiane Oliveira?


Josiane Oliveira: Eu sou uma mulher carioca de 43 anos, dois filhos que eu crio sozinha, com muito orgulho, uma mãe maravilhosa, eu sou uma profissional completamente dedicada à minha profissão, a formação de novos profissionais, a formação de pessoas que sonham em trabalhar numa área onde muitos veem com preconceito. Eu moro na cidade de Japeri, no Rio de Janeiro, eu costumo dizer que é o interior do Rio de Janeiro, mas é uma cidade que eu nasci literalmente porque eu nasci em casa, uma cidade que eu nasci e me criei. Meu filho tem 12 anos e o outro tem 19, que são assim o meu grande amor. Dois grandes amores.


"Eu cuido do amor da vida de alguém".

JCD: Como a tanatopraxia entrou na sua vida?


Josiane Oliveira: Eu sempre disse que... eu acreditava que ninguém nascia... dizendo que queria trabalhar com a morte... hoje eu vejo muito isso. Adolescentes que me procuram nas redes sociais e dizem para mim que querem ser tanatopraxistas, que querem cuidar do amor da vida de alguém.


"Eu sempre tive medo de preparar o corpo de uma criança".

Eu morria de medo. Eu conheci através de uma pessoa que era um profissional da área na época... e ele começou a falar comigo... eu tinha formação de enfermagem, mas na época que eu conheci a tanatopraxia eu estava trabalhando como empregada doméstica. Já tinha dez anos que eu tinha largado tudo na área da saúde pois estava trabalhando como empregada doméstica.


    Josiane Oliveira - Curso de Tanatopraxia
Josiane Oliveira - Curso de Tanatopraxia

Eu fui pesquisando, pesquisando... e fui me apaixonando pela tanatopraxia. Até que consegui, a duras penas, fazer o curso porque não é um curso barato. E aí eu fiz o curso me identifiquei demais. Isso já tem oito anos .


JCD: Esse processo tem quantos anos de existência?


Josiane Oliveira: No Brasil, a Tanatopraxia chega em 1994, na realidade ela é uma continuação desde a mumificação, desde o Antigo Egito. A gente vê aí com a mumificação e o embalsamamento, com embalsamamento moderno e a Tanatopraxia. Então ela surge em 1994 , mas se torna mais conhecida em 1997 e hoje, graças a Deus, já ganhou uma proporção muito maior.


JCD: O procedimento de tanatopraxia é caro?


Josiane Oliveira: O procedimento de tanatopraxia é um procedimento feito à parte, ele é pago à parte. Agora a gente tem uma grande evolução que as funerárias estão colocando no plano funerário, mas infelizmente ainda não é um valor tabelado, então ela pode hoje custar 800, pode custar 1.000, pode custar 1.500 reais. Depende também do estado do corpo, da necessidade de cada óbito ali.


JCD: Quanto tempo dura o corpo depois da tanatopraxia?


"Nunca pegue nada de um cemitério e nem vá descalço".

Josiane Oliveira: Na realidade com sepultamento em média até 48hr com o horário do óbito, preparamos o corpo com a quantidade de fluido específicos dentro do dia informado que será o dia do sepultamento


JCD: Hoje em dia é muita procura para o curso de tanatopraxia? Qual a duração do curso?


Josiane Oliveira: Muitas pessoas procuram o curso. O curso são sete dias consecutivos. O meu curso é em Taboão da Serra, São Paulo, sete dias consecutivos, onde o aluno que mora distante fica alojado com a gente. Existe uma procura .São pessoas que sonham com isso, que querem se dedicar a cuidar do amor da vida de alguém.


    Josiane Oliveira - Tanatopraxia
Josiane Oliveira - Tanatopraxia

Mesmo que isso cause estranheza, muitas pessoas acham que não existe a procura. Existe sim. Não é uma procura tão exagerada, mas existe. Existem muitas pessoas boas querendo se formar para prestar esse trabalho às famílias no pior momento que é o momento do luto.


JCD: Em que situação alguns cadáveres não passam pela tanatopraxia?


Josiane Oliveira: Quando a familia não tem condições financeiras, questão religiosa como judeu o muçulmamo por causa da troca de fluido arterial por substituir o sangue , algumas não aceitam e temos que respeitar.


Em algumas doenças também, como a meningite o COVID, o corpo não passou na época da pandemia e não passa pelo procedimento, ele tem o sepultamento imediato.


JCD: Pode se trabalhar por contra própria como tanatopraxia ou teria que ser contratado de uma funerária?


Josiane Oliveira: Alguns profissionais trabalham por conta própria, trabalham como prestadores de serviço, tirando folga de funcionários, e outros trabalham registrados, com plantão, que pode ser 12 por 36, 24 por 48 e até 24 por 72.


JCD: Você pode nos contar algo sobrenatural que aconteceu com você durante o processo?


Josiane Oliveira: Eu sempre falo sobre o caso da criança que eu cuidei, que foi a minha primeira criança... que foi em uma madrugada, que estávamos de plantão... e eu sempre pedia a Deus para nunca receber o corpo de uma criança porque eu não queria... mas eu sabia que um dia ia chegar a minha primeira vez... e aí o agente funerário chegou com o bebê no colo... eu estranhei muito, eu indaguei para ele e falei... nossa, mas você trouxe esse bebê no colo? Cadê o caixão, cadê a urna desse bebê? E aí ele falou... Josi, a dona do bebê está lá no carro... e era uma criança de 5 anos... e ninguém queria ir , vai lá você, vai você, vai você... foi aquele jogo de empurra... e aí eu fui com ele para pegar a urna... para pegar o caixão... o caixãozinho branco... ela tinha em torno de cinco, seis anos... e aí quando eu abri a urna eu vi as unhas dela pintada de cada cor... ali já começou... tudo colorida... e ali começou a dar aquele apertozinho no peito... era o meu primeiro óbito infantil.


E aí ele tinha falado que a mãe tinha pedido para colocar a boneca dela dentro da urna... eu preparei ela, coloquei ela no laboratório... eu tenho o costume de falar para as crianças ''Vem com a tia... que a tia vai cuidar de você.'' E nesse mesmo dia, quando eu saí do plantão... eu já saí me sentindo um pouco estranha... mais cansada... poderia ser cansaço... e quando eu estava em casa... naquele momento em que você não sabe se está dormindo ou acordada... eu a vi saindo de trás da minha cama, rindo... correndo para a minha sala. Foi assim... na hora eu me assustei... óbvio... eu sempre digo que... eu sinto energias mas eu não gosto de ver nada... eu não quero ver nada... é um trabalho energético... e a gente não pode negar... levando em consideração que cada um tem a sua sensibilidade.


"Os mortos fazem um som assustador".

E desde então... quando eu tenho alguma coisa... quando eu estou passando por alguma coisa eu ainda sonho com ela. E muitas pessoas disseram para mim que foi uma forma dela agradecer. O fato dela ter saído correndo e rindo... dando gargalhada... dando risadas... esse é um dos casos que marcou bastante para mim.


JCD: O salário de uma tanatopraxia é bom?


Josiane Oliveira: O salário de um tanatopraxista varia no início, a pessoa entra como auxiliar e costuma variar de dois a dois e duzentos o salário inicial, podendo chegar aí bem mais porque quando a pessoa passa a assumir um plantão, ela na maioria das vezes tem todos os direitos, na maioria das vezes não, e na maioria das vezes também ganham por comissão de corpos preparados.


JCD: Você poderia nos dizer quais famosos você fez o processo?


Josiane Oliveira: O famoso que passou pela gente lá, pelo Instituto de Tanatopraxia Agnus Dei, por vontade dele, eu posso falar esse, eu posso falar, existem outros que infelizmente não posso dizer, por uma questão de ética e profissionalismo, mas quem passou pelo Instituto, quem foi preparado conosco lá no Instituto Agnus Dei, foi o cantor Nahim. A gente tinha uma amizade, eu conheci o Nahim lá em São Paulo, e ele sempre falava que ele queria ser preparado lá na Agnus, ele sempre falava como ele queria, caixão no chão, a camisa do Corinthians, uma bermuda branca, ele sempre falava isso com a gente, quando a gente estava em alguma reunião, se divertindo, brincando, e foi o que aconteceu, a vontade dele foi obedecida, foi cumprida.


JCD: Qual o pedido mais inusitado de uma pessoa que você fez a Tanato?


Josiane Oliveira: O pedido mais inusitado foi um familiar que me pediu para colocar um vibrador dentro da urna. Eu estranhei bastante... aí eu ainda perguntei... eu falei... não... mas como assim... colocar como... onde... e tal... não... só para colocar dentro porque ele disse que queria levar... junto com ele... e tal... e aí... eu coloquei.... Não vi nenhum mal nisso, né... claro que fiz a família assinar uma declaração porque no dia da exumação aquela peça... aquele objeto vai estar lá... e alguém poderia não saber e achar que foi feito aquilo dentro do laboratório. Já coloquei também latinha de cerveja... na mão de uma senhorinha... mas o que é muito comum... é terço... lenço, às vezes foto, a família pede para colocar na mãozinha, não é feitiço, para colocar na mão, cartinhas, cartinhas que os netos escrevem, eu preparei o corpo de uma moça que cada filho escolheu um presentinho para dar para ela, um foi o ursinho, outro foi um lápis, então a gente tem esses pedidos, sim.


JCD: Foi noticiado alguns dias que um rapaz que trabalhava no necrotério teria tido relações sexuais com um cadaver. Não tem segurança nesse setor ou câmeras para evitar esse tipo de situação?


Josiane Oliveira: Não tem, infelizmente muitos não têm câmeras, também acho isso um absurdo, teria que ter câmeras, teria que ter um monitoramento, alguns laboratórios têm autorização de ter câmeras de segurança, mas a maioria não tem e no IML também não, infelizmente a maioria das instituições não tem, não posso dizer todas, mas a maioria realmente não tem.


JCD: Voltando ainda nessa questão, se um corpo sumir, que atitudes tomar nessa situação?


Josiane Oliveira: Se um corpo sumir... polícia... na hora... um corpo não pode sumir. Uma pessoa não pode sumir... não é só um corpo... é o amor da vida de alguém... é uma pessoa... é uma história... e não pode sumir... a polícia tem que ser procurada imediatamente.


JCD: Já recebeu corpos com algum corpo estranho colocado na boca?


"Eu já encontrei nomes e rituais dentro da boca de cadáveres"

Josiane Oliveira: Sim , já aconteceu. Veio um nome e foto dentro da boca e notifiquei a funerária.


JCD: Qual a dica para quem quer seguir essa profissão?


Josiane Oliveira: A dica para quem quer seguir a profissão é se formar numa boa instituição, com profissionais de qualidade, que tenham muito cuidado para não cair em golpes, porque estão tendo muito golpes aí ligados a cursos de tanatopraxia, a curso de necrópsia, muitas pessoas brincando com o sonho das outras pessoas. Então, um profissional precisa ter postura, postura ética, muito profissionalismo, muito respeito e também força física, porque a gente trabalha ali tirando da urna, colocando na mesa, tirando da mesa, colocando na urna, um trabalho que exige bastante da gente, tanto físico quanto psicologicamente.


JCD: Atualmente tem tour turístico dentro de cemitérios você acha isso seguro já que em cemitérios tem muita bactéria?


Josiane Oliveira: Sobre o turismo dentro do cemitério, não é uma coisa que me agrada. Além da contaminação provocada pelos corpos em decomposição, pelos subprodutos da decomposição, na minha opinião, eu, Josiane, instrutora, que daqui a pouco vão falar que é chata isso e aquilo, eu considero um local de sofrimento, um local de despedida, um local onde se tem muitas histórias sepultadas. Então, eu não acho que seria um local para se passear, mas existe a questão da cultura, existem gostos, e tem gosto para tudo, só me resta respeitar e dizer para que as pessoas se cuidem, tomem cuidado ao encostar, ao visualizar o líquido com odor forte, com odor desagradável, que pode ser necrochorume, onde há um risco muito grande de contaminação.


JCD: Tem diferença de tratar corpos que morreram de morte natural ,suicida é assassinado?


Josiane Oliveira: Tem diferenças, sim. A morte é natural, a morte que acontece no hospital, quando uma pessoa já tem uma assistência médica, esse corpo não precisa ir para o IML. Já a pessoa que pratica o auto-extermínio, ou ela é assassinada, ela precisa ir para o IML, porque o que causou a morte dela foi uma causa externa, uma facada, um tiro, é algo que veio de fora para dentro, e não é uma patologia, como uma patologia que vem de dentro para fora.


"Cuido dos mortos para uma partida digna".

Então a diferença é que o auto-extermínio e o assassinato, ou acidente de carro, acidente de moto, vem necropiaciado, com uma incisão, toraco abdominal, e também no crânio, craniotomia, passa pela craniotomia e o corpo clínico ele vem do hospital, que a gente costuma dizer que ele é fechado, porque ele não passa pela autópsia, como muitos conhecem, que hoje é mais conhecida e classificada como necrópsia.


Entrevista - Luciana Perez



Josiane Oliveira - Tanatopraxia


Tive a oportunidade de entrevistar a Tanatopraxista Josiane Oliveira, ela nos contou um pouco do seu trabalho. Instrutora de Tanatopraxia Avançada, Necromaquiagem e Restauração Facial.

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