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Juiza Luciana Fiala

  • Foto do escritor: Luciana Perez
    Luciana Perez
  • 1 de mai.
  • 9 min de leitura

É uma mulher juíza independente carioca apaixonada pela minha cidade. Eu sempre estudei e gosto de estudar.


Paulo Storani
Juiza Luciana Fiala

JCD: Quem é Luciana Fiala?


Juiza Luciana Fiala: É uma mulher juíza independente carioca apaixonada pela minha cidade. Eu sempre estudei e gosto de estudar. Fiz direito na UFRJ. Fiz Emerj durante 3 anos. Entrei pra fazer direito já pensando em ser juíza criminal. A parte criminal sempre me encantou.


A matéria criminal eu não sei por quê, mas é uma matéria que sempre me encantou.

Trabalhei em Paracambi numa área única super pesada,depois fui promovida para Bangu para a área cível ,nunca gostei da parte cível, foi meu inferno astral . Assim que pude fui para a vara criminal de Madureira até ser removida para o juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher aqui da capital.


JCD: Como foi a sua trajetória até a magistratura?


Juiza Luciana Fiala: Eu exerço a magistratura há quase 22 anos, em janeiro deste ano fiz 22 anos de magistratura. Enfim, passou bastante rápido, mas posso dizer que sou bastante feliz assim com a minha escolha, com a minha profissão e agora com a minha titularidade no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, eu vejo um papel mais decisivo do juiz no que toca a mudança da sociedade, no que toca o rompimento desses estereótipos que tanto inferiorizam a mulher, então estou bastante satisfeita.


Paulo Storani
Juiza Luciana Fiala

A parte criminal eu sempre gostei, eu lembro que quando eu era criança existia um jornal que eles eram um pouco rosados (o povo) e só falavam sobre crime e eu era bem novinha e diziam que era um jornal que se você espreme se ele saía sangue e isso de alguma maneira me encantava. Então eu pegava aquele jornal que estava ali na banca exposto e ia ler o que tinha no jornal, ia ler sobre os crimes. A matéria criminal eu não sei por quê, mas é uma matéria que sempre me encantou.


JCD: Qual foi o caso que mais te marcou?


Juiza Luciana Fiala: O caso que mais me marcou, na violência doméstica eu tenho vários, além daquele caso ali do parricídio, no documentário Juízo, em que um menino matou o pai em um contexto de extrema violência familiar ali que ocorria, eu tive também um caso na Ilha do Governador em que um pai matou um filho por problemas de dependência química numa iminente agressão à própria mãe, o pai acabou matando esse filho, foi uma audiência também bastante dramática que eu fiz na Ilha do Governador, também no início da minha carreira, e é um dos casos que eu também não consigo me esquecer.


Parte do filme Juízo - Juiza Luciana Fiala
Parte do filme Juízo - Juiza Luciana Fiala

Casos envolvendo crianças são casos que marcam bastante, eu tive um caso em Madureira de uma menininha que foi brutalmente espancada, era uma acusação de crime de tortura contra uma menininha de quatro anos que chegou morta ao hospital levada pelo agressor, o padrasto.


Casos envolvendo crianças são casos que marcam bastante

Então são diversos crimes, na violência doméstica, situações extremas de cárcere privado, de lesões, lesões com panela de pressão, já peguei mais de uma vez, lesões com marreta, onde a vítima acaba tendo que suturar a cabeça, fica muitas vezes marcada, então são casos que marcam a gente, que efetivamente ficam difíceis de serem esquecidos. E eu diria que aqueles que envolvem crianças, principalmente.


JCD: Como foi o convite para participar do documentário Juízo?


Juiza Luciana Fiala: Eu estava na vara da infância como juíza auxiliar ,era bem puxado Daí a Maria Augusta Ramos me convidou para o documentário dela.


JCD: Você já foi ameaçada por algum réu?


Juiza Luciana Fiala: Sim, já fui ameaçada em Campo Grande no começo da carreira e em Paracambi por mexer em inquéritos parados, ligaram para a casa da minha mãe e me ameaçaram por telefone.


Sim, já fui ameaçada em Campo Grande no começo da carreira

Da última vez um réu me encontrou na loja americana perguntou se eu me lembrava dele, fiquei sem ação e acabei comunicando o tribunal com isso fiquei meses com escolta. Coisa que eu não gosto.


JCD: Qual a maior dificuldade em ser juíza?


Juiza Luciana Fiala: Eu diria que é chegar em casa e ainda ter os casos mais graves rondando minha cabeça, isso me impede de ter um descanso.


JCD: Qual o seu posicionamento sobre a eficácia social da lei Maria da Penha?


Juiza Luciana Fiala: Hoje tem dia todo mundo tem medo dessa lei, é uma lei que pegou , as pessoas têm respeito,os homens andam bem ressabiado, está funcionando.


Juiza Luciana Fiala
Juiza Luciana Fiala

É lógico que não é perfeita , mas a lei vem protegendo as mulheres. É uma lei muito importante


A 1ª reunião da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica de 2025 reuniu grandes profissionais e lideranças comprometidas com a luta pela justiça e pela proteção das mulheres.


A 1ª reunião da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica de 2025
A 1ª reunião da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica de 2025

O diálogo, a troca de experiências e o fortalecimento das estratégias são essenciais para avançarmos nessa causa tão urgente.


JCD: Você é muito ativa nas redes sociais, já pensou em criar podcast para falar sobre direito ou algo parecido?


Juiza Luciana Fiala: Então, vamos lá! Eu nunca pensei em criar um podcast, eu confesso que o meu maior inimigo atualmente chama se tempo, eu tenho muito pouco tempo, a minha vida é muito corrida, eu ainda estou matriculada no mestrado em Direitos Humanos, Justiça e Saúde, é um mestrado pela Fio Cruz, mas eu não descarto a criação de um podcast, eu já tive um projeto que se chamou Elas Por Nós, onde nós discutíamos na época da pandemia, assuntos relacionados à mulher, juntamente com várias personalidades envolvidas aí no tema, então eu não descarto, mas por hora, eu não teria tempo de encaixar na minha agenda esse tipo de projeto, porque eu estou com um tempo bem corrido, são aulas, são palestras são podcasts que me convidam e são congressos, não é? Eu dou aula e agora também tenho aula do mestrado, gosto muito de estudar, mas infelizmente o dia tem só 24 horas e a gente acaba não conseguindo encaixar tudo.


JCD: O que você costuma fazer nas horas livres?


Juiza Luciana Fiala: Nas horas livres eu gosto de me exercitar, eu gosto muito de correr, sempre que eu posso eu corro.


    Juiza Luciana Fiala
Juiza Luciana Fiala

Eu gosto de dançar, eu gosto de sambar, eu faço aulas de samba ao longo do ano todo, eu saio no carnaval, gosto bastante de carnaval, é um projeto cultural da cidade do Rio de Janeiro, acho que ele é a cara do Rio de Janeiro e eu gosto bastante.


Nas horas livres eu gosto de me exercitar, eu gosto muito de correr

Eu também gosto de cozinhar, eu sou botafoguense, eu gosto de torcer pelo meu time e adoro viajar.


JCD: Você é muito ativa nas redes sociais como você lida com tantos Fake News e golpes na internet , acredita que um dia isso possa acabar?


Juiza Luciana Fiala: Então, a questão das fake news e dos golpes na internet, eu mesma fui vítima de um golpe desse, onde invadiram a minha conta, fizeram uma portabilidade com meu número de telefone e passaram a pedir dinheiro para investimentos fraudulentos, para os meus seguidores, com a minha foto.


Foi bastante desagradável, eu, obviamente, acionei as forças policiais para que esse tem aí uma dificuldade ainda em punir esses crimes, identificar esses criminosos, mas é possível essa identificação e como é uma investigação em curso, eu também não posso muito me aprofundar em relação a isso, mas esses golpes, as pessoas têm que estar muito atentas para não serem enganadas, e essa questão de fake news, sempre conferir o que está se vendo, olhar.


Sempre duvidando, não é não acreditar em tudo que está nas redes sociais, procurar a fonte, verificar. Isso é muito importante.


JCD: O que você pode nos dizer sobre a redução da maioridade penal? Acha viável? Em menos de 3 semanas 2 adolescente de 16 anos matou os Pais.


Jovens no crime
Jovens no crime - O Estado tem que estar presente

Juiza Luciana Fiala: A questão da redução da maioridade penal eu sou contra, porque eu acho que a solução não é reduzir a maioridade penal, a solução é investir nos nossos jovens. Não adianta reduzir a maioridade e colocar os jovens em instituições que não funcionam, que não servem para reeducar, que não servem para promover uma reinserção desses jovens na sociedade.


É preciso vontade política para a gente não perder essa geração.

Eu acho que, sobretudo, não se pode deixar que eles caiam na criminalidade. Para isso é necessário uma educação de qualidade, investimento em esportes e lazer e segurança.


É preciso vontade política para a gente não perder essa geração. Essa é minha opinião em relação a isso.


JCD: Na sua opinião, o que faz um adolescente de 14 anos entrar no crime?


Juiza Luciana Fiala: Infelizmente, é a falta de uma formação sólida por parte da família, é a falta de ter uma família como referencial, essas pessoas, infelizmente acabam dividindo muitas vezes miséria, vivendo num ambiente completamente contaminado, como por exemplo comunidades, infelizmente tomadas pelo tráfico, tomadas pela criminalidade, pela bandidagem, então essa criança ela tem como referencial o traficante que está com um tênis bacana, que está com uma camisa de marca, que está cheio de namorada, então ele acha esse cara o super-herói, então isso aí facilita, o cara está ali, está com uma namorada bonita ou várias namoradas, ainda usando um tênis de marca, uma camisa bacana.


Esses jovens que cometerem crimes são invisíveis

E aí chamam ele para entrar no tráfico, quer dizer, o Estado tem que estar presente, o Estado tem que estar ali oferecendo as demandas desse adolescente, o Estado tem que preencher o espaço que ele perdeu para a criminalidade, se ele quiser ganhar a confiança, o interesse desses jovens em serem pessoas melhores, eu não estou dizendo que tem que passar a mão na cabeça de um jovem que comete crime, eu não estou dizendo isso, mas o que eu estou dizendo é que há uma grande carência, há uma falta de vontade política.


Esses jovens que cometerem crimes são invisíveis em pessoas, em pessoas que têm direitos, que são sujeitos de direitos.


JCD: Qual o seu conselho para quem deseja ser Juiz?


Juiza Luciana Fiala: Não vou fugir do chavão, estudar, tem que estudar, tem que estudar com qualidade, não é a quantidade, estudar vendo qual é o melhor método que aquela pessoa mais aprende, tem que ter um emocional bacana, tem que estar equilibrado, tem que estar bem com você mesmo para que você consiga dar conta de tentar resolver as questões das outras pessoas, e de alguma maneira ajudar a construir uma sociedade mais equânime, porque isso também é tarefa do juiz, o juiz está ali, ele não está distrito só àquele caso, a gente tem que olhar em volta, a gente tem que ter um olhar amplo, então é isso que eu diria e tem que gostar, só fica realmente quem gosta, porque o trabalho é um trabalho árduo e é um trabalho inesgotável.


Você não deixa de ser juiz nem um minutinho depois que você passa no concurso. Então, também é uma enorme responsabilidade.

JCD: Você é passista de escola de samba, já recebeu algum convite para ser rainha da bateria? Iria?


Eu prefiro ficar ali, no meio das meninas da comunidade mesmo

Juiza Luciana Fiala: Sim, eu sou passista de escola de samba, é uma outra atividade que eu exerço, que eu gosto muito. Eu adoro estar no meio das meninas da comunidade, da Grande Rio, que é de onde eu sou passista. Eu sou super bem acolhida lá. É uma aula exclusivamente de comunidade, eu acho que a única pessoa que não é da comunidade sou eu. E é uma aula que envolve dança, muito esforço, é uma verdadeira maratona atravessar aquela avenida sendo passista. Mas eu adoro, eu me realizo ali, que eu gosto muito de dançar e todo mundo fica envolvido. É um espírito de carnaval que eu gosto bastante.


Juiza Luciana Fiala - Grande Rio
Juiza Luciana Fiala - Grande Rio

Nunca recebi convite para ser rainha de bateria e francamente eu não iria. Não tenho nenhum interesse em ser destaque, tenho interesse mesmo em sair na ala das passistas, ser uma delas, e essas moças que são rainhas de bateria, tem que ficar muito em evidência.


Eu prefiro ficar ali, no meio das meninas da comunidade mesmo, sambando como passista isso efetivamente me realiza.


JCD: Você tem algum projeto em andamento?


Juiza Luciana Fiala: Meu projeto em andamento é o mestrado, é a conclusão desse mestrado, é a entrega da tese, quando esse mestrado acabar eu já vou estar quase completando o tempo para minha aposentadoria como juíza.


Em relação a projetos futuros ainda não posso falar ainda não sei o que vai acontecer, então é isso aí o futuro dirá .



Entrevista - Luciana Perez



Juiza Luciana Fiala


É uma mulher juíza independente carioca apaixonada pela minha cidade. Eu sempre estudei e gosto de estudar. Em janeiro deste ano fez 22 anos de magistratura.


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