O Diretor do Documentário Proibido dos Trapalhões
JCD: Quem é Rafael Spaca?
Rafael Spaca: Sou um cara esforçado que luta para ganhar a vida, cheio de sonhos: quero lançar meus últimos livros, meu filme, empreender e ser professor. Muitas vezes me pego a pensar se dentro das minhas possibilidades, do meu contexto social eu fui longe ou não. Olhando em retrospecto, me orgulho do que construí até aqui, mas quero fazer muito mais, seguindo outro caminho agora. Meu mestrado na ESPM de São Paulo irá mudar meu patamar e minha perspectiva de vida.
JCD: Como surgiu a ideia de fazer o documentário dos trapalhões?
Rafael Spaca: Como ninguém pensou nessa ideia, eu mesmo fui atrás e fiz. Me orgulho do material que produzi e já virou referência sem existir ainda. Graças a minha coragem de fazer um filme na raça, contra o poder financeiro que tenta censurar e intimidar meu trabalho, além da sabotagem de Renato Aragão e sua esposa, fui em frente e estou há cinco anos na luta para esse filme ser exibido.
JCD: Você já trabalhou com os trapalhões?
Rafael Spaca: Infelizmente não. Não tenho idade para isso. O máximo foi mediar dois bate-papos com o Dedé Santana.
JCD: Quantos livros você já escreveu sobre os trapalhões? Algum deles foi vetado?
Rafael Spaca: São 4 livros até o momento: O Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu (Editora Laços, 2016); as HQs dos Trapalhões (Editora Estronho, 2017); A Noite Americana dos Trapalhões (Publicação independente, 2022) e Os Trapalhões: modo de ser, de pensar e se expressar (Editora Madrepérola, 2023). Pretendo transformar minha dissertação de mestrado em um livro assim que a defender. Trata-se do filme "Os Saltimbancos Trapalhões" (1981) e do seu caráter político. Muitos críticos dizem que o grupo era alienado e defendo a tese que eles fizeram filmes políticos e sociais, foram mais políticos que muitos críticos por aí. Também pretendo lançar o livro com todas as entrevistas do documentário e tenho mais uma ou duas ideias para trabalhar no futuro.
JCD: Na sua opinião, o Renato Aragão tem intenção de fazer o próprio documentário sobre os trapalhões?
Rafael Spaca: Se tivesse já teria feito. O que ele e esposa querem é sabotar um trabalho bem fundamentado, achando que isso vai "manchar" a imagem do eterno trapalhão. O que sustento é que o filme vai humanizar todos os integrantes, que ficarão maiores do que já são, que esse documentário já acendeu uma chama de interesse no nome do grupo muito grande e que todos eles poderiam surfar nessa onda bacana que o documentário criou. A família do Mussum trabalha muito bem a imagem dele, é um case de sucesso. As famílias dos outros três poderiam fazer o mesmo e seguir o exemplo. É preciso reverenciar e criar produtos para que o grupo aumente ainda mais seu número de fãs e admiradores, fazendo com que assim jamais sejam esquecidos.
JCD: Por que a mulher do Renato Aragão te ameaçou? O que tem de polêmica neste documentário que ela quer vetar?
Rafael Spaca: Porque ela é ignorante no tema. Não conhece a lei, não conhece nada de audiovisual, de liberdade de expressão. É a típica "nova rica" que, só porque tem dinheiro (casou com um milionário) pode fazer o que quer. É uma sem talento que tenta de tudo e não logra êxito em nada, vive na sombra do marido. É narcisista, arrogante, petulante e esnobe. Trata mal seus funcionários, trata mal o Dedé Santana. Vocês não fazem a mínima ideia do quanto essa mulher é má.
JCD: Você precisa de autorização de alguém para produzir o documentário?
Rafael Spaca: Só preciso que algum(a) executivo(a) esperto olhe com carinho para essa preciosidade que quero lançar. Vejo tanto documentário porcaria, de gente que não teve o tamanho dos Trapalhões. Não é possível que ninguém tenha inteligência para lançar esse.
JCD: A Globo fez o documentário da Xuxa, você acredita que se a Globo fizer o dos trapalhões será bem diferente do seu?
Rafael Spaca: Não acredito que a Globo faça. E é muito simples explicar: se fizerem isso, a chance de meu documentário sair será ainda maior porque todos sabemos como é o padrão Globo de documentários. É aquela chapa branquice que ninguém suporta e vão criar uma celeuma pedindo e comparando ambos. Se quiserem saber a verdadeira história dos Trapalhões terão que assistir o meu, nisso eu me garanto.
JCD: Qual o andamento do documentário?
Rafael Spaca: Em finalização.
JCD: A famosa frase um por todos e todos por um, os trapalhões só eram trapalhões com os 4 juntos, tanto que com a morte do Zacarias e Mussum o grupo acabou, se hoje tivesse uma volta com Didi e Dedé faria sucesso?
Rafael Spaca: Renato Aragão, infelizmente, não tem mais condições físicas e de saúde para tal.
JCD: Renato Aragão é dono da marca os trapalhões?
Rafael Spaca: Felizmente não, me parece que é uma empresa chinesa.
JCD: Você já pensou em fazer um museu dos trapalhões? Tipo uma visita guiada? Com fotos, mídias, entrevistas e imagens dos filmes?
Rafael Spaca: Seria um sonho.
JCD: Como está o lado profissional do Dedé?
Rafael Spaca: De uma vitalidade absurda, o cara tem uma energia impressionante. Dedé Santana é uma unanimidade atualmente.
JCD: O Renato Aragão não quer que você faça o documentário por medo de denegrir a imagem dele? Porque no filme do Mussum tem cenas falando da briga por valores iniciada pelo Dedé.
Rafael Spaca: Muito do que eu falo e escrevo em meus livros eu encontro nos filmes, no musical e até no show da Madonna. Vamos lá: no filme do Mussum mostra que a briga pela separação foi ocasionada pela matéria da revista Veja. Quem disse isso? EU! No musical "O Adorável Trapalhão" a produção me contou que assistiu inúmeras entrevistas minhas. No show da Madonna, no número musical que fala dos brasileiros vitimados pela AIDS aparece Zacarias. Quem disse que ele morreu de AIDS? EU! Fico feliz com o reconhecimento, mesmo sem um crédito explícito.
JCD: Não seria interessante você como jornalista fazer um documentário sobre o Zacarias como tevê do Mussum? Não seria mais fácil e prático? Não te atrai a ideia?
Rafael Spaca: É o próximo projeto audiovisual que tenho. Uma série a respeito dele.
JCD: Na sua opinião, qual era o trapalhão mais querido do público?
Rafael Spaca: Pelo que ouço são Mussum e Zacarias. Para mim, os quatro de maneira igual.
JCD: Além do documentário, quais são os seus próximos projetos?
Rafael Spaca: Quero lançar meus livros, virar mestre pela ESPM e empreender.
JCD: Você tem alguma mágoa, arrependimento ou frustração por algo causado na sua pré-produção do documentário?
Rafael Spaca: Nenhuma!
Entrevista - Luciana Perez
Rafael Spaca
Documentário de Os Trapalhões
Ele é considerado um dos maiores talentos da sua geração. Sua pesquisa no campo cinematográfico vem descortinando temas e personagens que pareciam penalizados a ficar definitivamente à margem da história. Além de pesquisador é criador.
Comentários