Que Tal um Tour Noturno em um Cemitério?
- Jornal Correio Diário
- 8 de mai.
- 4 min de leitura
Conversei com o idealizador Thiago de Souza para saber mais um pouco do projeto "O que te assombra".
"Podemos afirmar que as histórias de assombrações são relatos de experiências humanas contadas por uma pessoa para outra pessoa".
Quando você iniciou o projeto: O Que Te Assombra?
O Que Te Assombra nasceu em 2021 em agosto, aquela fase final da pandemia, da segunda onda, eu perdi uma tia, fiquei muito impactado e um monte de medo. Tipo, é idoso, criança e tal, estava consumindo muito conteúdo ligado à morte, eu já tinha um doc sobre cuidado paliativo, que sempre me interessou esse assunto, mas não nessa outra dimensão. E aí eu criei com a Júlia Zampieri, uma amiga, o Silo Sotil e o Matheus Rasa, a gente criou o Que Te Assombra e eu acabei virando meio que o rosto, virando meio que tudo assim do projeto.
Você escreveu o livro Milagreiros de Cemitério. Qual história você achou mais marcante?
Esse milagreiro de cemitério são as histórias milagreiras de São Paulo. E eu acho que a história mais impactante pra mim é a do Bento do Portão, acho muito bonita. Tem várias muito importantes, mas o Bento do Portão é impressionante. É um homem que se chamava Antônio Bento, veio a pé da Bahia até São Paulo. E aqui em São Paulo ele acabou virando morador em situação de rua, mas acabou também, inevitavelmente, virando um rezador e acolhido, foi acolhido pela comunidade. E quando ele morre, ele é sepultado no cemitério de Santo Amaro, que era a região em que ele vivia, e começa a fazer milagres. E aí quando vão exumar o corpo dele, o corpo dele tá incorrupto. Ele vira um super milagreiro na cidade de São Paulo. O corpo incorrupto é o corpo que não se decompõe. Depois de anos sepultados.
"Não sabíamos o que estava por vir, era muito maior do que nossas ambições".
Você tem algum apoio ou patrocínio para levar o grupo para a visitação noturna?
Nós não temos, a gente tem autorização para fazer tudo o que a gente faz, só que a gente não tem apoio financeiro nem técnico hoje. Hoje eu sou monitor das visitas, chamam visitas monitoradas, e eu faço isso tudo em parceria com uma professora de história, especialista em arte tumular, que é Viviane Comunale, e com autorização de todas as administradoras dos cemitérios que a gente faz.
Algumas pessoas têm medo dessa visita? Já viram alguma coisa sobrenatural?
O pessoal tem medo das baratas, de assombração, até que a galera não tem tanta. E nos passeios a gente nunca viveu experiência sobrenaturais, mas eu tenho fotos de pessoas que tiraram fotos esquisitas, eu vou te mandar aqui.
Você acredita que o cemitério esconde muitas coisas das quais nunca saberemos?
Eu acho que o cemitério guarda muitas coisas que a gente precisa estar lá pra revelar. Eu acho que ele não esconde coisas.
Eu não sei... Se tá lá, pode ser revelado. Seja uma história, seja um segredo, seja uma passagem pela cidade.
O grande problema é quando ele não está lá e quando ele é destruído, quando ele é tirado de lá. Enquanto ele estiver lá, a gente sempre vai ter a chance de descobrir.
Quais cemitérios você faz o tour noturno?
Eu já fiz noturno no cemitério de Piracicaba, cemitério da Saudade de Campinas, cemitério da Saudade de Piracicaba, cemitério da Consolação, já fiz no cemitério na Necrópolis de São Paulo.
Já fizemos um que pegou um fim de tarde e começo de noite no Araçá, e fiz agora no Paquetá em Santos, gostaria muito de fazer no Rio também.
"Percebemos que contar histórias de assombração é contar um pouco da história das cidades e dos acontecimentos do cotidiano".
Ao mesmo tempo que dá medo ir em cemitérios, as pessoas têm curiosidade de saber certas coisas, como você vê essa situação de medo e curiosidade?
Eu acho que as duas coisas se conjugam e elas não precisam se afastar né, o fato das pessoas terem medo, eu acho que a morte é sempre um tabu né, a questão sanitária também é um tabu, acho que o papo espiritual também é um tabu e a curiosidade também vem exatamente desses lugares, de primeiro você confirmar essas suspeitas e também o interesse de revelar outras possibilidades, então eu acho que o grande lance do cemitério é que ele guarda alguma coisa para as pessoas, ele guarda sempre temas ligados à cidade, então eu acho que essa vontade de descobrir o que tem lá é maior do que os medos, claro como eu te falei tem o pessoal que tem medo de barata e tem toda razão de ter né, tem bastante barata no cemitério à noite.
"O medo é um importante elemento em nosso conteúdo".
O que te motiva a fazer esse trabalho?
O que me motiva é uma busca pessoal mesmo, sempre falo que é pra mim isso, é super terapêutico, eu preciso dividir com as pessoas a experiência delas lá dentro, embora eu seja um pesquisador do tema e, claro, por conta disso eu conheço vários aspectos dos cemitérios, para eu dividir as experiências com as pessoas é fundamental, por isso que eu faço. E claro, a gente tem interesses, vamos dizer assim, pessoais, que mobilizam um pouquinho nossas ambições e até em alguma medida vaidade, então eu gostaria muito de conseguir mudar nas pessoas o jeito que elas olham para os cemitérios, então talvez esse seja meu maior objetivo nesse universo de atividades em cemitérios.
Você tem curiosidade em visitar tumbas de faraós? Dizem que são histórias fantásticas e muitas lendas sobre as tumbas.
Morro de vontade até porque é um exemplo muito prático e evidente de que as pessoas visitam construções funerárias e nem sabem, né que, por exemplo, como você bem lembrou, as pirâmides são talvez as mais famosas expressões de arte tumular do mundo e morro de vontade de conhecer.
Pretende fazer tour internacional?
Já fui para alguns cemitérios famosos internacionais.
Em 2024 fui para Roma e visitei muitos cemitérios, gostaria de fazer esse tour fora do Brasil.
Que Tal um Tour Noturno em um Cemitério?
O Que Te Assombra nasceu em 2021 em agosto, aquela fase final da pandemia, da segunda onda, eu perdi uma tia, fiquei muito impactado e um monte de medo. E aí eu criei com a Júlia Zampieri, uma amiga, o Silo Sotil e o Matheus Rasa, o projeto Que Te Assombra.
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