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Foto do escritorJornal Correio Diário

Mães e Pais Tóxicos

Uma relação marcada por amor, dor e sofrimento.

Já ouvi de uma pessoa em uma sessão de análise que não existe equilíbrio emocional que resista a uma relação de comportamento tóxico com certas mães. De outra ouvi o relato de que nos momentos de conflitos e descontrole chega a desejar a morte da mãe como o único caminho para o descanso e para encontrar a paz. Mas que nos momentos de calmaria é difícil conviver com o sentimento de culpa por ter pensado de tal maneira. Freud tinha razão, somos todos neuróticos. Mas certamente esse é um caso mais presente do que se imagina nos núcleos familiares.


Existem mães, pais e avós altamente controladoras que não permitem que seus filhos, netos, ou sobrinhos façam algo sem que elas estejam no controle, limitando e podando toda e qualquer possibilidade de independência. Essa ideia está totalmente descartada por esse tipo de responsável de comportamento tóxico. Perder o controle sobre a sua prole não é opção. Inconscientemente, ou não, elas preferem fazer com que seus filhos fiquem emocionalmente doentes do que sofrerem com a possibilidade de não serem mais capazes de exercerem tal controle e com isso passarem a viver com esse vazio, esse buraco, esse furo difícil de tamponar.


Tem mães, pais, ou qualquer um que ocupe esse lugar de um grande outro como diria Lacan, que parecem ter esquecido o sentido das palavras amor, amparo e incentivo de seus vocabulários. Humilham, denigrem e invalidam tudo que os filhos fazem. Normalmente fazem comparações tomando elas mesmas como modelo de perfeição a ser seguido num comportamento narcísico doentio. Também fazem comparações onde só o que outros fazem tem valor e dessa forma traçam o caminho de desvalorização emocional de uma pessoa que mais tarde precisará de um acompanhamento terapêutico, neurológico ou psiquiátrico.


Atacar a autoestima dos filhos é mais comum do que você pode imaginar caro leitor.


É muito comum também usarem os argumentos de que irmãos, primos ou amigos são sempre muito melhores, mais inteligentes e capazes. Soltam suas flechas fatais em forma de palavras quando dizem para sua filhos “você não vai se ninguém na vida, você nunca faz nada direito, você não presta, me arrependo de ter parido você e outras frases do mesmo tipo que parecem ter sido tiradas de um roteiro de um filme dramático onde a vítima será sempre a vítima e qualquer tentativa de se rebelar ou reerguer deverá impedida custe o que custar. O algoz precisa vencer sempre.


Os tóxicos tendem a ser sempre abusivos, manipuladores, controladores, se fazem vítimas, são negligentes e se alimentam do sofrimento do outro. Uma busca na literatura sobre os tipos de mães tóxicas provavelmente vai apontar para mães dominadoras, protetoras em exagero, possessivas, contraditoriamente amigas, ausentes, depreciativas, competitivas, emocionalmente instáveis e outras tantas possibilidades.


Mas claro que por trás de tudo isso também existe amor em muitos casos. Tem a música que diz “eu sei que tenho jeito meio estúpido de ser” eternizada na voz de Maria Bethânia e de autoria de Isolda e Milton Carlos e o título de uma obra clássica de cinema chamada "Os brutos também amam" que podem retratar ( ironia de nossa parte) um pouco desse suposto amor. Lembro de uma mãe que escreveu certa vez dizendo que não se considerava tóxica mesmo sabendo que fazia sua filha sofrer demais com as palavras ofensivas e cruéis por ela desferidas. Na visão dela, cada um demonstra amor do seu jeito e que nem sempre o jeito escolhido é o melhor, abrindo espaço para o conflito. Mas fica no ar a pergunta, se sabe que esse não é o melhor jeito então por que não procurar ajuda para mudar o que não está funcionando? Vai entender.


Outra me disse que ouviu dos filhos que ela é tóxica, cruel e controladora, mas que ela não acha. Considera um exagero deles, mesmo sabendo que um de seus filhos têm sérias dificuldades emocionais reconhecidamente causadas por ela e por seu modelo de criação e tratamento.


Por fim, recentemente ouvi também numa sessão de análise uma pergunta que permanece sem resposta se eternizando na mente dessa pessoa. A pergunta é “Por que minha mãe me odeia tanto?”.


Claro que poderíamos ficar aqui escrevendo bastante sobre esse tema e certamente muitos seriam os desdobramentos. Mas não é nossa pretensão transformar esse breve texto em manual com dicas sobre os relacionamentos tóxicos ou numa terapia na forma de um artigo ágil e escrito em poucas linhas, mas seria ótimo receber relatos, opiniões e experiências. Será um prazer trocar ideias.


Nos escreva, forte abraço e até a próxima!


 

Mães e Pais Tóxicos

Ricardo Gomes,

Psicanalista, escritor e professor universitário.

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